Filosofia para o ensino médio - textos e reflexões

Blog dedicado a professores e estudantes do ensino médio, contendo textos, músicas, poesias e outras referências.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Filosofia. Noel Rosa

Filosofia
O mundo me condena, e ninguém tem pena Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber se eu vou morrer de sede Ou se vou morrer de fome
Mas a filosofia hoje me auxilia A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim Vou fingindo que sou rico Pra ninguém zombar de mim
Não me incomodo que você me diga Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo
Quanto a você da aristocracia Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
Que cultiva hipocrisia

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Padronizados. Preconceito e o padrão de comportamento na sociedade atual


Padronizados. É isso que todos nós somos. O modo de vida da sociedade atual é padronizado. Temos opções para fazer o que quisermos, é verdade. Mas a sociedade nos julga e despreza seriamente se essas escolhas não forem adequadas àquele padrão de vida. Apesar desse padrão englobar diversos tipos de comportamento e escolhas, quando o número de pessoas que não segue esse padrão é analisado, o conjunto de comportamentos e regras padronizados cada vez mais é visto como limitado. Exclui pessoas que são genéticamente incapacidadas de estar dentro do padrão e pessoas cujas escolhas provocaram a exclusão. Primeiramente, há aquelas pessoas que não obedecem esse padrão de classe média simplesmente porque não nasceram nas condições necessárias para serem aceitas. Por exemplo, é ignorância falar que não existe mais racismo no Brasil. Há, e muito. Algumas pessoas se dizem não racistas, mas ao tratar um negro, o tratam como se esse fosse infortunado, como se tivesse tido azar por ter nascido negro. Sentem pena, e por isso são racistas. Há aqueles que evitam, como todos conhecem. Há os que olham desconfiados para todo negro que vêem na rua e que se surpreendem ao ver algum de terno ou em algum bom carro. A surpresa não é racista se ela se dá ao fato de que o negro superou os preconceitos presentes na sociedade, mas quando está acompanhada de desconfiança em relação aos meios pelos quais aquele negro conseguiu o emprego ou o carro, certamente o surpreso é racista. Há ainda aqueles que argumentam, dizendo que também existe muito preconceito por parte dos negros. Como se isso lhes tirasse toda a obrigação de evitar o preconceito e tratar a todos igualmente. Há esse tipo de preconceito? Há, mas trato esse preconceito mais como uma consequência do outro. Não deixa de ser um racismo, mas é importante citar que a maior parcela negra da população está nas classes mais baixas. O preconceito vindo por parte desses negros é mais uma suposição de que os brancos das classes mais altas tratarão eles como inferiores. Por isso o ódio. Sim, ódio. O membro branco racista da classe média odeia os negros porque, na concepção dele, os negros são inteiramente culpados pelos assaltos que acontecem em seu bairro. O membro negro racista da classe baixa odeia os brancos porque, na concepção dele, todos os brancos o têm como bandido e o tratarão mal caso o encontrem. É claro que, para que o preconceito por parte dos negros acabe, primeiramente é necessário que o preconceito por parte dos brancos acabe. Isso tudo é histórico. Os europeus que tratavam os negros como animais nos tempos de escravidão eram racistas, é claro. E isso, já naquela época, gerou um preconceito por parte dos negros escravos, que julgavam todos os europeus como racistas. Isso diminuiu, mas não acabou ainda. Além daqueles que não podem fazer nada para serem aceitos por completo na sociedade, há ainda aqueles que escolhem modos de vida diferentes dos padrões da sociedade e são massacrados psicologiamente por ela e, muitas vezes, têm de se converter a seus princípios sob ameaça de serem excluídos. Por exemplo, um jovem que vive em uma família cheia de advogados, médicos, economistas e engenheiros decide se tornar algo completamente diferente, como ator ou estilista, ou algo que fuja dos padrões. Esse jovem, no início, é tratado como se fosse mudar de opinião, “coisas da idade”. Quando esse demonstra realmente que vai realizar o que tinha dito, é, na maioria das vezes, rejeitado, excluído. Principalmente se esse tem irmãos que seguiram o padrão, por vontade própria ou não. O jovem, ao decidir ir por um caminho alternativo ao padronizado, a sociedade, quase sempre, o rejeita. O que falta na sociedade é respeito. O dia que o respeito absoluto existir, é certo que surgirão muito mais artistas, músicos ou pessoas que fugirão ao então antigo padrão de vida e comportamento. Os padrões da sociedade ainda excluem muitos outros grupos de pessoas, como homossexuais; membros de religiões não tradicionais na sociedade, como as africanas; deficientes físicos e mentais etc. A sociedade atual simplesmente se recusa a aceitar as pessoas que são ou pensam diferente, como se os membros dessa sociedade padronizada realmente fossem iguais uns aos outros. O que precisa surgir é a percepção de que todos somos diferentes uns dos outros, e não iguais. Cada pessoa pensa diferente de outra em algum ponto. Ninguém é igual. E, sendo assim, todos são iguais em ser diferentes.

domingo, 9 de agosto de 2009

É POSSÍVEL PERDOAR?

Existe perdão?
É possível perdoar?
Existe um limite para o perdão?
Perdoar não é tolerar, é simplesmente tirar de si o que lhe machucou, não ligar a dor à pessoa quem provocou. Estancar a ferida, oxigenar os pulmões e olhar novamente, de frente a pessoa maldita. É possível? É possível esquecer, limpar o consciente, o peito ao ponto de voltar a permitir que a pessoa que lhe magoou possa habitar novamente a tua existência? Humanamente é impossível perdoar, a menos que se “vomite” de uma vez o que incomoda, e que a presença da pessoa que lhe magoou seja mais estimada do que a tragédia que ela provocou. Então, como perdoar? Perdoar não é aceitar, ou ignorar, mas sim superar, transformar a dor, sublimá-la.
Pior do que perdoar o outro é se perdoar. Existe perdão para si próprio? Assume-se a culpa, humilha-se, e ainda assim o tempo não volta, o feito, o dito, ou o omitido já estão distantes demais. O tempo não perdoa...
Só é possível perdoar quando saímos de nossa subjetividade e encaramos o mundo que nos cerca, transcender a própria existência. Nos olhando no espelho, revivendo nossos limites e erros e o quanto a vida é breve. Breve demais para alimentarmos desconfortos, desajustes. Somente amando uns aos outros podemos chegar ao Todo! Somente unidos superamos limites, e os nossos próprios limites de não perdoar. Perdoar não é só possível, como necessário!

sábado, 9 de maio de 2009

Programa de Índio - etnocentrismo nosso de cada dia

Depois de uma longa e complexa explicação, meu amigo antropólogo conseguiu fazer com que o taxista finalamente entendesse sua profissão, dizendo: "Trabalho com índios". O motorista então perguntou, interessado: "E aí, eles estão melhorando?" Meu amigo não entendeu. "Como assim, melhorando?" "Assim, evoluindo: ou ainda estão naquele atraso da época do descobrimento?"
Infelizmente, a maioria das pessoas pensa como o taxista. Como se numa suposta corrida, nós, descendentes da cultura europeia e pertencentes a esse negócio chamado "civilização ocidental", (...) estivéssemos na frente dos índios. Só que não tem corrida nenhuma e os conceitos de frente etrás desaparecem no ar, como a fumaça que sai dos escpamentos dos carros ou do cachimbo do pajé.
Claro que, se formos comparar o conhecimento técnico ou o domínio sobre a natureza, nossa sociedade é muito mais desenvolvida do que a dos ianomâmis. Nós fazemos foguetes que vão á Lua e hidroelétricas que produzem energia, eles sequer fundem metais. Por que então não podemos dizere que somos mais "evoluídos?" Porque não está escrito emlugar nenhum que o bjetivo do homem na Terra é desenvolver-se tecnicamente e dominar a natureza. Se pensarmos que "evolução" é chegar o mais perto possível de uma sociedade igualitária, então nós somos um fiasco, com milhões de pessoas vivendo na miséria. Os ianomâmis, o auge da evolução.
Não quero, de maneira nenhuma, passar a falsa idéia de que nós somos maus e os índios bonzinhos. Eles também fazem guerra e matam uns aos outros, assim como os povos mais civlizados. O que estou dizendo é que, se avida não tem um sentido viver seminu na selva louvando o grande deus da jaca é tão evoluído ou idiota quanto correr de Nike air numa esteira contando as calorias.
Meu amigo, no entanto, ficou com preguiça e simplesmente respondeu ao taxista: "Não melhoraram nada, estão iguaizinhos". O taxista moveu a cabeça de um lado para o outro, triste e parado num trânsito de 137 quilômetros, 30 quilos acima do peso, fumando excessivamente e casado com uma mulher que não ama, falou: "Coitados".
Antonio Prata - Revista Capricho s/d. Indicação: Marina Roale - estudante do 3° ano EM - CSRO

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Nada acaba em Nada e a Filosofia.

O princípio de Epicuro talvez nunca tenha sido tão atual: “Nada vem do nada; nada acaba em nada!”. Remete-nos a um tipo de consciência do que se é e do que se faz, visando à felicidade que se quer. Sua preocupação na época girava em torna das repercussões e excessos da “publicidade” nos mercados da cidade de Salmos, na Grécia. Já naquela época as pessoas consumiam em excesso, na dinâmica atual: “preencham seu vazio com um produto!”. Os excessos de apelos “de fora” comprometiam a verdadeira visão de si mesmo, deturpando as verdadeiras necessidades, causando o vazio e a infelicidade. Neste caso, a busca pela filosofia seria um remédio para a alma, como o único capaz de nos tornar livres, uma das condições para a obtenção da felicidade: “deves servir à filosofia para que possas alcançar a verdadeira liberdade”.

Longe de promessas terapêuticas, ou de fórmulas prontas, a filosofia provoca um movimento solitário, já proposto por Sócrates: γνωθι σεαυτον (gnothi seauton, "conhece-te a ti próprio"). Um despertar para a consciência de si, e do mundo, algo só possível na subjetividade, e decisivo para o conhecimento de si, antes do conhecimento do mundo. Epicuro também afirmava a necessidade de um auto-conhecimento, dizia que por não entendermos as nossas necessidades, caimos vítimas de desejos substitutos, como exemplo: calças que não nos servem, ou excessos de sapatos que nunca iremos usar.
Sentimo-nos atraídos pelos bens materias, na crença de que eles nos trarão felicidade; até podem trazer, mas será que é a felicidade da qual realmente necessitamos?

Nem sempre desejamos aquilo que precisamos, isso em nível de objetos materias, ou de relações pessoais. Nunca se teve tanta facilidade de acesso à comunicação entre as pessoas: celular, msn, e-mail, skype e etc; no entanto, alimentamos a sensação de vazio, de falta de troca, de entendimento nas relações humanas. Por maiores os avanços da técnica e de de seus produtos, visando à facilidade da vida, sempre haverá algo de subjetivo, próprio do humano que só remete a si mesmo. Nisso, a filosofia não promove o caminho, mas fomenta a busca por ele.

Epicuro viveu de 341-270 a. C., aos 35 anos comprou uma casa retirada da cidade, e chamou alguns amigos para morarem com ele. A casa era ampla, com privacidade para todos, apenas as refeições e conversas eram feitas em áreas afins, como por exemplo o jardim (kepos). É daí que surge o jardim de Epicuro, que até hoje denominanos de jardim de infância, devido ao apelo pelo lúdico e ao clima fraternal. Lá, as sanções não existiam, o Kepos admitia as mulheres, os escravos, estrangeiros, quem quer que se interessasse pela proposta epicurista: de amizade e amor à filosofia e à humanidade.

A proposta do blog “Nada vem do Nada”, à semelhança da proposta de Epicuro, é de uma reflexão de si mesmo, a busca pela filosofia e sua atividade. Para quê? Para a vida! Qual o propósito? A felicidade! Questões tão elementares, que o avanço científico e a técnica ainda não conseguiram responder à humanidade. Ainda que não saibamos de onde viemos, ou para onde iremos, certamente acabaremos em algum lugar, pois “Nada acaba em nada”!
Andreia Maciel, professora de Filosofia.