Filosofia para o ensino médio - textos e reflexões

Blog dedicado a professores e estudantes do ensino médio, contendo textos, músicas, poesias e outras referências.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Nada acaba em Nada e a Filosofia.

O princípio de Epicuro talvez nunca tenha sido tão atual: “Nada vem do nada; nada acaba em nada!”. Remete-nos a um tipo de consciência do que se é e do que se faz, visando à felicidade que se quer. Sua preocupação na época girava em torna das repercussões e excessos da “publicidade” nos mercados da cidade de Salmos, na Grécia. Já naquela época as pessoas consumiam em excesso, na dinâmica atual: “preencham seu vazio com um produto!”. Os excessos de apelos “de fora” comprometiam a verdadeira visão de si mesmo, deturpando as verdadeiras necessidades, causando o vazio e a infelicidade. Neste caso, a busca pela filosofia seria um remédio para a alma, como o único capaz de nos tornar livres, uma das condições para a obtenção da felicidade: “deves servir à filosofia para que possas alcançar a verdadeira liberdade”.

Longe de promessas terapêuticas, ou de fórmulas prontas, a filosofia provoca um movimento solitário, já proposto por Sócrates: γνωθι σεαυτον (gnothi seauton, "conhece-te a ti próprio"). Um despertar para a consciência de si, e do mundo, algo só possível na subjetividade, e decisivo para o conhecimento de si, antes do conhecimento do mundo. Epicuro também afirmava a necessidade de um auto-conhecimento, dizia que por não entendermos as nossas necessidades, caimos vítimas de desejos substitutos, como exemplo: calças que não nos servem, ou excessos de sapatos que nunca iremos usar.
Sentimo-nos atraídos pelos bens materias, na crença de que eles nos trarão felicidade; até podem trazer, mas será que é a felicidade da qual realmente necessitamos?

Nem sempre desejamos aquilo que precisamos, isso em nível de objetos materias, ou de relações pessoais. Nunca se teve tanta facilidade de acesso à comunicação entre as pessoas: celular, msn, e-mail, skype e etc; no entanto, alimentamos a sensação de vazio, de falta de troca, de entendimento nas relações humanas. Por maiores os avanços da técnica e de de seus produtos, visando à facilidade da vida, sempre haverá algo de subjetivo, próprio do humano que só remete a si mesmo. Nisso, a filosofia não promove o caminho, mas fomenta a busca por ele.

Epicuro viveu de 341-270 a. C., aos 35 anos comprou uma casa retirada da cidade, e chamou alguns amigos para morarem com ele. A casa era ampla, com privacidade para todos, apenas as refeições e conversas eram feitas em áreas afins, como por exemplo o jardim (kepos). É daí que surge o jardim de Epicuro, que até hoje denominanos de jardim de infância, devido ao apelo pelo lúdico e ao clima fraternal. Lá, as sanções não existiam, o Kepos admitia as mulheres, os escravos, estrangeiros, quem quer que se interessasse pela proposta epicurista: de amizade e amor à filosofia e à humanidade.

A proposta do blog “Nada vem do Nada”, à semelhança da proposta de Epicuro, é de uma reflexão de si mesmo, a busca pela filosofia e sua atividade. Para quê? Para a vida! Qual o propósito? A felicidade! Questões tão elementares, que o avanço científico e a técnica ainda não conseguiram responder à humanidade. Ainda que não saibamos de onde viemos, ou para onde iremos, certamente acabaremos em algum lugar, pois “Nada acaba em nada”!
Andreia Maciel, professora de Filosofia.